<$BlogRSDUrl$>

18.7.05

Domingo 16 do Tempo Comum - Ano A 

Neste Domingo é a Epístola que me chama particularmente a atenção, visto dizer respeito a algo tão importante como a oração. Muitas vezes não sabemos como orar, ou achamos que não conseguimos rezar, ou que não temos motivação, ou ensejo, ou vontade, ou que não sentimos nada, ou que rezar não faz sentido, ou que somos incapazes, ou indignos, ou que não serve para nada, ou que é ridículo... e muitas coisas mais, visto ser a oração algo de tão pessoal. (Mesmo a oração comunitária, importante como é, é apreendida, sentida e percebida de modo diferente por pessoas diferentes.) Ora S. Paulo ensina que é o Espírito Santo que reza em nós, e isto com gemidos inefáveis. Quantas vezes na nossa vida sentimos que temos pouco para dizer, ou que só nos repetimos... em todos esses casos podemos estar certos de que os nossos mais profundos anseios e pensamentos podem ser uma oração, se deixarmos que o Espírito Santo actue em nós. Não é por serem inefáveis os nossos gemidos que Deus os não ouve.

Ora o que é aborrecido com a acção do Espírito Santo é que nunca é certa nem segura. Nem mais era de esperar de um espírito, que a gente nem vê nem ouve nem cheira nem mede nem sabe onde é que está ou onde é que não está. E assim até podemos achar, ao fazer uma coisa, que é excelente, e decerto obra do Espírito Santo, que assim age em nós, mas estarmos a enganar-nos a nós mesmos. Com a oração é o mesmo, e nunca é claro quando é que o Espírito Santo ora mesmo em nós ou quando é que estamos antes sempre nós a falar, não deixando o Espírito Santo levar a cabo a sua acção. Este deve ser um motivo para sempre tentarmos cada vez mais escutá-lo onde ele se faz ouvir: pode ser nas Escrituras, nas palavras de alguém que conheçamos (mesmo que não seja cristão!), nos acontecimentos da nossa vida...

Domingo 15 do Tempo Comum - ano A 

Sempre tinha encarado a parábola do semeador que Jesus contou como algo fatalista. Uma semente cai nas pedras, outra entre espinhos, outra é comida pelos pássaros, e outra na boa terra, e esta é que dá fruto duradouro. Um belo convite à perspectiva do calvinismo, segundo a qual Deus predestinou uns para se salvarem e outros para se perderem: quem está predestinado para se salvar, ouve a palavra e põe-na em prática; os outros, não. E pronto. Não haveria muito a fazer.

Já tinha ouvido a interpretação de que em nós há sempre vários tipos de terreno. De facto, todos nós somos demasiado complexos para não podermos deixar de ser considerados compósitos. Às vezes somos terreno de uma qualidade no que diz respeito a certos aspecto da vida, e de outra qualidade diferente quanto a outros aspectos...

Mas muito gostei de ouvir o prior da minha paróquia ter chamado a atenção para o facto de que, da mesma maneira que os agricultores limpam os terrenos de pedras, e de espinhos, para poderem ser cultivados, também nós decerto poderemos melhorar-nos a nós mesmos, limpando-nos daquilo que nos estorva de ouvir a palavra de Deus e pô-la em prática. Foi um incentivo para mim, que já sabia que poderia melhorar-me, mas nunca tinha visto como isso se relacionaria com esta parábola.

11.7.05

The Screwtape letters 

Uma amiga minha emprestou-me há pouco tempo este divertido livro, de C. S. Lewis, editado no Brasil como Cartas infernais e em Portugal como Vorazmente teu. Nele, o demónio Screwtape escreve ao seu sobrinho, o demónio Wormwood, com conselhos sobre como tentar e levar à perdição o paciente de que ele se ocupa.

Disse que o livro é divertido, e é, mas nele mencionam-se muitas coisas sérias, porque o autor fala de imensas tentações que nos podem sobrevir também a nós. Já me ajudou a mim a perceber melhor o que por vezes me vai na alma. E permanece actual apesar de ter sido escrito durante a Segunda Guerra Mundial. Hei-de mencionar aqui algumas das suas partes que mais me chamaram a atenção.

2.7.05

Domingo 14 do Tempo Comum (ano A) 

O Evangelho de hoje é um conhecido e belo passo de Mateus que nos relembra que ser discípulo de Jesus não é coisa que esteja relacionada com grandes desafios intelectuais, ao alcance apenas de quem tenha grande sabedoria humana, e após estudo intenso. Não é que não seja úil o estudo da Bíblia, a leitura de livros escritos pelos Padres da Igreja, ou que a Teologia não tenha préstimo. Tudo isso são coisas que podem ser muito proveitosas... Mas pode acontecer que se tornem numa armadilha no sentido de pensarmos que só por meio delas poderemos ser cristãos, ou conhecer Jesus. E pode acontecer que acebemos a dar mais importância a esses meios do que ao fim a que nos deveriam levar. É que é possível cair numa «idolatria» de ídolos que são o conhecimento da Bíblia encarado como um fim em si mesmo, o conhecimento das obras dos Santos como um fim em si mesmo... E tudo isso, que nos poderia ajudar a conhecer melhor Jesus, e, assim, a conhecer o Pai («Quem me vê, vê o Pai», João 14, 9-11), pode tornar-se dessa maneira um obstáculo.

Este Evangelho de hoje concorda com a passagem do Evangelho de João acima. Mas frisa mais que não somos nós que conseguimos a nossa própria salvação esforçando-nos muito, seja por fazer várias coisas que fazem com que mereçamos aos olhos de Deus ser salvos por ele, seja por adquirir conhecimentos que nos tornam superiores -- mesmo conhecimento acerca do seu Filho. Nós somos salvos porque Deus quer salvar-nos no seu Filho: «ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aqueles a quem o Filho o quer revelar».

E nesse sentido vão também as últimas palavras de Jesus. Ser discípulo dele não é ter de fazer uma data de coisas difíceis, de cumprir uma série de regras e regulamentos e prescrições. Havia contemporâneos de Jesus que pensavam assim. Prestavam imensa importância, por motivos religiosos, a coisas como lavar a loiça ou as mãos, a distância a que se andava aos sábados, o pagamento dos dízimos. Em si, cada uma dessas prescrições e regras era exequível. Mas eram imensas (cada regra precisava de mais regras para as explicar, e para definir com precisão o que se podia e não podia fazer, até todos os pormenores estarem cobertos, e não haver margem para qualquer liberdade), e bastava falhar uma para se ser considerado ímpio. A nossa rectidão, contudo, não resulta do cumprimento minucioso dum conjunto sufocante de regras. Resulta de sermos amados pelo Pai, que nos enviou o seu próprio Filho para nos revelar um jugo leve e suave.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?