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22.12.05

O criacionismo nas escolas 

Nos EUA há quem tente que as escolas ensinem o criacionismo (pseudo-)científico como alternativa à teoria da evolução. Não se trata de teorias alternativas, porque o criacionismo não é científico: parte de um preconceito (no sentido epistemológico do termo), que é o de que os seres vivos foram criados por intervenção divina. Depois reinterpreta todos os dados da experiência para apoiar esse preconceito (isto é, essa ideia prévia a qualquer análise, e impermeável a argumentação). Dá-se ênfase ao que possa apoiá-la, e desdenha-se do que possa infirmá-la.

Parece que há pouco uma escola pública onde alguns professores tentaram fazer isso se viu impedida de o fazer por ordem de um tribunal. Claro está que o auto-proclamado oráculo de Deus na terra, o presidente Bush, achou mal. Aqui está uma notícia do DN.

16.12.05

Alarga a tua tenda 

Ontem fui à missa e a primeira leitura era tirada de Isaías: «... Alarga a tua tenda, e estica os panos das tuas habitações; não sejas mesquinho e estica as cordas e fortalece as estacas, porque te alargarás para a direita e para a esquerda, e a tua descendência herdará os gentios, e habitará citades desabitadas... » (Isaías 54, 2-3)

Será que nós alargamos a tenda do nosso coração para lá caber Jesus Cristo, que busca lugar para nascer na nossa alma? Será que esticamos os panos da nossa habitação para neles acolhermos os outros que nos rodeiam e que tantas vezes ficam para trás, preocupados que estamos com prendas, coisas bonitas, enfeites, comidas de Natal? São coisas boas, essas, mas na medida em que aumentam a felicidade dos outros, da nossa família, dos nossos amigos, dos vizinhos, dos colegas de trabalho. Se pelo contrário tais coisas materiais se tornam um fim em si mesmo, ocupam todo o espaço da tenda, e nela não cabe já mais ninguém.

Teremos espaço na nossa habitação (tanto física como espiritual) para as pessoas da nossa família que precisam de apoio? Para aqueles que deixamos sós a maior parte do ano? Ou só temos impaciência e ira, agravadas pela confusão nos espaços comerciais? E que podemos nós fazer para que a nossa sociedade acolha pessoas que são injustamente segregadas? Para que haja justiça social?

Que cidades desabitadas poderemos habitar? Há hoje muitas cidades desumanas, frias e gélidas, onde se não habita mas quase só se vegeta. Como poderemos habitá-las? Como poderemos alargar-nos para a esquerda e para a direita para que por nosso meio o amor de Deus que se manifestou no seu Filho seja aparente a toda a humanidade? Para que sejamos verdadeiramente filhos do nosso Pai celeste, que envia chuva sobre bons e maus? Para que os gentios de hoje ouçam as boas novas, proclamadas não com palavras, nem com acções ostentatórias, mas com obras de verdade?

Mensagem de Natal 

do arcebispo de Cantuária (anglicano). É um breve mas belo texto sobre como Deus luta contra o sofrimento.

13.12.05

O Natal 

O Papa Bento XVI mencionou há dias o «inquinamento» comercial do Natal. Agora, parece haver nos EUA um esforço por parte de certos sectores conservadores (com os quais confesso pouca simpatia ter) por manter uma presença de símbolos cristãos em lugares públicos nas ornamentações próprias desta época. Isto, segundo noticia o Diário de Notícias. Lembra-me a questão dos crucifixos nas escolas portuguesas... Mas a questão não é exactamente igual. O Natal não era originariamente cristão, mas chegou até nós como festa cristã. Agora tem um significado diferente, sendo cada vez mais uma festa unicamente consumista. Eliminar a iconografia cristã não é neste caso ser neutral, porque a natureza da festa não permite tal coisa: é mesmo tomar uma posição a favor da religião laica consumista em desfavor do cristianismo... Se no caso dos crucifixos ser neutral é retirá-los, quer-me parecer que aqui o equivalente seria eliminar toda a decoração...

E isto remete-nos sempre para a questão das origens da nossa cultura, do que se pode fazer para as preservar, da medida em que é bom (ou não) preservá-las, dos meios que se pode (ou se não deve) usar para a preservar, da tolerância para culturas diferentes no seio duma mesma sociedade, da relação entre religião e cultura (duas coisas que por vezes tendem a servir-se uma da outra como mero instrumento, o que é pena em ambos os casos)...

As Crónicas de Nárnia 

Fui finalmente ver o filme «The Chronicles of Narnia», baseado num livro de C. S. Lewis, autor de que já falei várias vezes.

a) Do ponto de vista dos efeitos especiais, do guarda roupa, da caracterização, etc. e tal, é basto semelhante a O senhor dos anéis, embora inferior e menos espectacular (e provavelmente mais barato). A maior diferença é que não se vê sangue na batalha, para o filme ser para maiores de 6.

b) A história, como já aqui referi, tem as suas semelhanças com os contos da Middle-Earth, antes de degenerarem. Eu compará-la-ia sobretudo a The Hobbit, livro esse bem mais ingénuo e despretencioso que O senhor dos anéis. Em Nárnia, há feiticeiros, animais falantes, anões, árvores consicentes, gigantes, faunos, centauros, ogres, minotauros e demais cainçalha do género. Um amigo meu fez-me ver também um paralelo com A História interminável, um outro livro juvenil muito bom (e alvo de várias adaptações cinematográficas medíocres).

c) Eu disse que a história era semelhante às da Middle-Earth, mas devia ter dito antes isso do ambiente em que ela se enquadra. A história é (como eu já suspeitava, sem ter a certeza), na verdade, uma alegoria. Não quero estragar a surpresa a ninguém, mas penso que

  • Aslan é Deus, ou Cristo (1)

  • a feiticeira é o demónio

  • Narnia é o mundo

  • Aslan a entregar-se é a paixão (aliás, Cristo a entregar-se, da incarnação à paixão)

  • a mesa de pedra a partir-se é a ressurreição de Cristo

  • Narnia no inverno é o mundo decaído

  • Narnia na primavera é o mundo redimido

  • o miúdo moreno a aceitar delícias turcas é o homem a deixar-se seduzir pelo pecado

  • as delícias turcas são os aparentes benefícios a curto prazo do pecado

  • a conversa que ele tem com Aslan é a conversão

  • os seres congelados pela feiticeira são os mortos, física ou espiritualmente (2)

  • Aslan a revivê-los com o sopro da sua boca é a ressurreição ou a redenção (conforme a escolha anterior)

  • a batalha é a vida

  • Father Christmas é (ao menos em certa medida) como João Baptista (ao anunciar o fim do inverno)

  • ...


(1) Lewis cria na Trindade, pelo que a diferença também não será crucial. Seja como for, Aslan é aquele que estava lá quando a magia profunda foi escrita.
(2) E se calhar ambas as coisas simultaneamente. Aliás o cristianismo relaciona-as.

Em suma, eu recomendo o filme!

Imigrantes 

Acho que já aqui escrevi que, se é difícil perceber ao certo qual é a melhor política de imigração de que a Europa precisa, e se é claro que não se pode abrir as fronteiras da União indiscriminadamente, não podemos tratar os imigrantes, ou aqueles que tentam sê-lo, de maneira desumana. Isto mesmo no caso de pessoas que cometem ilegalidades, pelas quais deverão justamente ser punidos, mas que nunca retiram a dignidade humana. Isto porque, se não houver punição por uma violação duma prescrição legal, é infelizmente provável que ela seja desprezada e violada mais amiúde. Os cristãos não devem obedecer às autoridades (entre as quais se contam as leis...) não só por medo de castigos, mas por questão de consciência (Romanos 13, 5). Mas nem todos são cristãos (e mesmo os cristãos muitas vezes não parece terem consciência). E contudo, a dignidade humana é inviolável, e mesmo irrenunciável.

No Diário de Notícias de hoje menciona-se uma reportagem sobre as condições dos centros para imigrantes ilegais em Itália. O mesmo assunto levantou já questões recentemente em Portugal. Na verdade, repito que acho imperativo que quem tenta entrar ilegalmente na União Europeia seja impedido. Senão, para que servem as leis? Se elas não são justas, que se mudem. Mas enquanto vigoram, há que cumpri-las. Cumpram-se, porém, respeitando as pessoas a quem se aplicam.

Como sempre, a morosidade dos processos e a burocracia prejudicam muitas pessoas. E em muitos casos, o prejuízo é intolerável.

ICNE 

Há mais de um mês que nada aqui escrevo, pelo que deixei escapar uma série de acontecimentos que mereciam um comentário...

Um deles foi o Congresso para a Nova Evangelização. Uma bela iniciativa, sem dúvida: as conferências terão sido interessantes, encontrar outras pessoas com interesses semelhantes é importante (é uma das razões -- entre outras -- pelas quais os membors da Igreja se reúnem), o esforço de chamar a atenção para Cristo foi útil...

E contudo o ICNE não esconde que cada vez são menos os cristãos; não faz com que não seja preciso um esforço contínuo a chamar a atenção para o Evangelho (e não só aos espasmos); não substitui a acção menos mediática mas talvez mais necessária que os cristãos (tanto individualmente como enquanto Igreja) precisam de ter...

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