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31.1.05

Duas Notícias 

Nestes dias de muito trabalho, em que nem tenho tempo para escrever a minha posta dominical a tempo e horas, nada como meter links para quem escreve...

1. Frei Bento Domingues fala, esta semana, nas questões relativas ao preservativo. Não é costume eu estar tão de acordo com os artigos dele como estou neste.

2. Robert Jensen, activista americado baseado em Austin, escreve sobre a religião dos conservadores cristãos americanos, e suas contradições.


20.1.05

3º Domingo TC (A) 

O salmo do dia de hoje diz-nos que «o Senhor é minha luz e minha salvação». Possa isso ser verdade connosco em vez de tentarmos ver luz e salvação em ídolos que não passam de imagens disformes de Deus. Um desses ídolos pode resultar de entendermos mal o que diz a segunda leitura: Paulo pede aos Coríntios que não haja divisões entre eles e que sejam unânimes nas suas palavras. Ora há quem ache que a melhor maneira disso é seguirmos, como carneiros, todas as opiniões e arrimos da hierarquia eclesiástica -- seja da mais hierarquicamente próxima de nós, seja do papa (coisa que hoje com os meios de comunicação social que há é já possível; outrora é que era mesmo precisa toda a cadeia da hierarquia para fazer chegar a todos os simples fiéis leigos as instruções papais) --, abdicando de actividade intelectual autónoma. Mas isto é pormo-nos sob a liderança de seres humanos imperfeitos como nós em vez de seguirmos a Jesus. Ele era o Filho de Deus e tinha poder e sabedoria («ele sabia o que ia no coração de cada homem», João 2, 25) para dizer a cada um «vem comigo» (como faz no Evangelho de hoje) ou «volta para casa e anuncia entre os teus as maravilhas que o Senhor fez por ti» (Marcos 5, 19), conforme era mais adequado a cada pessoa. Os apóstolos foram escolhidos por Jesus, os bispos são os seus sucessores, e os presbíteros colaboradores dos bispos, mas já ninguém tem a capacidade divina que Jesus tinha quando se fez carne e habitou entre nós. Assim uma unidade conseguida à custa de uma mera obediência eclesiástica é uma falsa unidade, que antes do mais põe em causa o que ensina Paulo no fim da epístola de hoje. Porque Cefas e Paulo não foram crucificados nem em seu nome fomos baptizados (e com os bispos de hoje, seus sucessores, o argumento continua válido por maioria de razão), pelo que é Cristo que é a cabeça da Igreja e é de Cristo que somos discípulos -- não de homens, que segui-los só daria azo a divisões como as dos coríntios. Deixemo-nos pois guiar, cada um de nós, na sua consciência por aquele que anunciou «o Evangelho do Reino» e que é único com poder para curar «todas as doenças e enfermidades de entre o povo».


19.1.05

Novo blogue 

Uma amiga minha chamada Patrícia começou um blogue, cujo endereço é http://original00.blogspot.com e onde tem imensos pensamentos bonitos, a começar por uns belos poemas de Sta. Teresa de Ávila. Mas tem escrito muito mais, tanto pensamentos dela como citações de outros autores. Acho que merece ser lido.


17.1.05

Final straw 

Mais música recebida este Natal. OK, esta foi mais tirada da net, pois o album ainda não está editado em Portugal. Trata-se de Around the Sun, dor REM, que tem duas músicas relativas à guerra. A que dá título a este post é a minha favorita, e ao verem a letra, compreenderão o lugar que ela tem num blogue cristão. É verdade que com a música fica, evidentemente, muito melhor. Afinal, como dizia o Pessoa, toda a canção é um poema ajudado...

Sem mais delongas: a letra e o album (no segundo link podem ouvir um bocadinho).


14.1.05

2º domingo TC 

No domingo passado, a leitura do evangelho era a do baptismo de Jesus, hoje voltamos a encontrar João Baptista — a semana passada, a leitura era de Mateus, a desta semana é de João, o que se nota na linguagem, mais simbólica: o cordeiro de Deus, a pomba que desce, o homem que vem depois e que já existia antes de João... Aqui, é a pomba o sinal que Jesus é o Messias, o Filho de Deus.

Ora, esta pomba, em Mateus, é acompanhada por uma voz forte, como a do Deus do antigo testamento (ainda que seja meigo, aquilo que ele diz). Aqui, é só a pomba o sinal, que revela a João que Cristo é o Filho.

Assim, queria apenas registar este pormenor simbólico: é o amor de Deus Pai, corporizado na pomba, e não numa voz majestosa, é esse amor que distingue, que marca, que identifica Jesus como o messias esperado. Assim para ele, assim para nós: aquilo que nos faz maiores, que nos distingue do mundo, que nos faz profetas e filhos é esse amor do Pai, sereno e vigoroso ao mesmo tempo, que somos capazes de reconhecer e acolher, mais do que qualquer feito moral oui religioso que possamos realizar. É acolhendo e assumindo esse amor paternal, é deixando-nos ser amados, que adquirimos a nossa verdadeira identidade de filhos no Filho — e nos salvamos.


12.1.05

Maremoto 

Apesar de não aparecer muito na comunicação social este tipo de interrogação, uma pessoa que faça algum esforço por ter uma visão religiosa do mundo não deixa de se perguntar como é possível que um Deus que é bom permita (ou queira, para os mais legalistas) que aconteça uma coisa como o recente maremoto na Ásia. Uma resposta possível a esta pergunta é dada por Rowan Williams, Arcebispo de Cantuária, encontrei-a num arquivo de posts: As best we can manage it - pray.

Já agora, se lá forem, leiam também o artigo de John Pilger, jornalista de investigação britânico, intitulado The Other, Man-made Tsunami.


11.1.05

Partenia 

A diocese virtual faz 10 anos. Aqui fica uma pequena entrevista ao Bispo Gaillot sobre o assunto.


7.1.05

Maremoto 

A quem queira ajudar as vítimas do maremoto na Ásia, deixo aqui as referências da conta onde a rede Jesuita de assistência recebe as contribuições:

Banco: Millennium BCP – Rua Castilho 44B 1250 LISBOA
Titular da conta: FUNDAÇÃO GONÇALO DA SILVEIRA
Nº da conta: 45270952742
NIB: 0033 0000 4527 0952 7420 5

Quem quiser ler o comunicado onde se explica como é que o dinheiro chega às vítimas, pode encontrá-lo aqui (contém também estes dados). Para conhecer a acção social dos Jesuítas, que é mais de ajuda cooperativa que assistencialista, pode ver-se a sua página de notícias, chamada Headlines.



6.1.05

Baptismo do Senhor 

Hoje lemos aquela profecia de Isaías em que se predizem várias características do Messias, entre as quais que ele não apagará a torcida fumegante nem quebrará a cana rachada. De facto, Jesus sempre teve uma atitude de extrema delicadeza com os pecadores, nem lhes fazendo crer que não havia problema nenhum com o seu modo de proceder, pois sempre colocou padrões de conduta exigentes, baseados no amor ao próximo, e amor que no caso dele chegou à morte e morte de cruz, nem os desprezando e censurando a ponto de os afastar e fazer desesperar. Parece que os fariseus no tempo dele desprezavam os que consideravam ímpios, como por exemplo os publicanos, e faziam os possíveis por não terem nada a ver com eles. Dos essénios nem se fala: eles consideravam-se os únicos verdadeiros israelitas e viam os outros todos como pagãos. Jesus, pelo contrário, sempre chamou os pecadores à penitência: como ele próprio disse, tinha sido enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel. A ocasião nos evangelhos em que mais violentamente fustiga alguém com as suas palavras é quando censura os fariseus, que se achavam justos e religiosos.

Sirva-nos isto de exemplo, nesta festa em que, celebrando o baptismo do nosso justo Mestre, celebramos também o nosso, pelo qual nós, que somos pecadores, somos configurados com ele a fim de abandonarmos a nossa vida anterior e sermos uma nova criatura, para também assim procedermos. Não apagar a torcida fumegante e não quebrar a cana rachada não quer dizer que não queiramos reconhecer que uma se está quase a apagar e outra quase a partir. Devemos fazer como Cristo e acender novamente a chama da fé onde se acha em perigo e fortalecer o que corre o risco de se estilhaçar sem mais remédio. Mas temos de ter cuidado para, ao ver pecados e erros e misérias e enganos, não nos limitarmos a condenar tudo isso. Há quem, em face de tais coisas, se limite a exprimir a sua desaprovação. Ora «a palavra branda aquieta a ira e a palavra dura excita o furor», como diz o livro dos Provérbios (15, 1), pelo que isso muitas vezes terá pouco mais efeito que apagar e quebrar.

E afinal de contas, «se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e não há verdade em nós» (1 João 1, 8): nós também muitas vezes merecemos as censuras que por vezes temos vontade de fazer aos outros sem amor por eles. Sobre tal comportamento aconselhou Jesus: «tira primeiro a farpa da tua vista, para então veres claramente e tirares o grão de pó da vista do teu irmão» (Mateus 7, 5).


1.1.05

Epifania do Senhor 

A leitura da visita dos magos é-me particularmente grata, pois ainda no tempo do Pedra Viva, o meu primeiro grupo paroquial, participei na feitura de um trabalho sobre estas três personagens. Descobri que, por exemplo, não seriam reis, mas sábios, uma espécie de astrólogos videntes, que seriam conselheiros dos reis do Oriente, lendo o futuro nos astros. Já agora, se ainda temos 12 signos no zodíaco, e se ainda achamos que eles regem o nosso futuro, devemo-lo a esta gente.

Aqui, o episódio, interpetado no seu significado simbólico, é muito rico. Representa aqui a sabedoria dos povos estrangeiros a Israel, aqueles que seguem a estrela da sua inteligência, da sua sensibilidade, do seu entendimento, e que através delas conseguem chegar a encontrar o menino Deus, que reconhecem sem hesitação.

Aqui, não posso deixar de falar da grade falta da Igreja, que, durante muitos anos (até meados do século XX) teve uma posição altamente desconfiada e agressiva em relação aos homens da ciência e da tecnologia. Livros e pessoas queimadas, ensinamentos e certos desenvolvimentos tecnologicos (como as vacinas) proibidos e anatematizados, enfim, desgraças. Já o Concílio apontou noutra direcção, com a sua Carta aos Homens de Ciência (que infelizmente não encontrei na net), onde elogia e encoraja estas investigações.

Finalmente, voltando aos magos, note-se a simplicidade com que estes homens acolhem o conselho de uma pessoa como Herodes. Sendo ele a pessoa que nós sabemos, foi ele que lhes indicou o caminho na ausência da estrela. E foi seguindo o conselho de alguém tão pouco recomendável que eles lá chegaram. Donde vem a verdade, é coisa que nunca devemos dizer com demasiada certeza: até um assassino de crianças pode indicar o caminho da luz.


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