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31.8.05

Domingo 22 do T.C. ano A 

A exortação que o apóstolo Paulo faz na Epístola de hoje é muito importante. Nós somos seres muitos conformistas, e frequentemente vivemos simplesmente deixando-nos ir na onda. Há pessoas que parecem ser desalinhadas, mas muitas vezes limitam-se a alinharem-se por um padrão minoritário (e embora pensem que são originais na verdade limitam-se a copiar tanto como os outros, ainda que a fonte da cópia seja diferente). Mas o apóstolo Paulo afirma que estar conformado com o mundo como ele é não é solução, do mesmo modo que não é solução tentar apenas ser diferente por ser diferente. O que importa é a vontade de Deus, o que é bom e perfeito. E discernir o que isso venha a ser é que deve ser o nosso esforço. Não é algo que outros nos possam impor. Temos de ser nós a renovar a nossa própria mente. Isso quer dizer que nem sequer é uma auto-imposição, porque a nossa personalidade deve ser diferente: não a antiga forçada a conformar-se exteriormente com uns ritos e uns comportamentos inculcados.

Em contrapartida, se amarmos verdadeiramente, o nosso ser será diferente. Veremos em que é que o mundo que temos não é algo com que nos conformemos. Veremos que não podemos conformar-nos com a mediocridade, o egoísmo, a cupidez, a falsidade, a ira, a pobreza, a inveja, o ódio, e tantas outras coisas que o mundo tem. E ao mudar-nos a nós e ao mundo que nos rodeia (na medida em que o possamos e consigamos) assim ofereceremos os sacrifícios vivos e agradáveis de que o apóstolo fala.

Esta é uma ideia interessante. Quando se pensa em sacrifício pensa-se muitas vezes numa coisa dolorosa, horrível, desagradável, muito a nosso contra-gosto. Por vezes há sacrifícios assim -- Jesus passou por muito disso. Mas muitas vezes os sacrifícios são coisas mais agradáveis do que não os fazer. Por exemplo, quando nos aproximamos dum amigo, aproximamo-nos dum altar, e, ao escutarmos o que nos diz, ao darmos bons conselhos, ou meramente ao mantermos uma boa companhia e um ambiente saudável de convívio, oferecemos um sacrifício a Deus. Se somos educados e corteses em situações em que muitos perdem a calma e desatinam, também oferecemos um sacrifício. Se nos comportamos honestamente numa situação em que poderíamos não o fazer, o mesmo sucede. E em todas estas coisas, na verdade, acabaremos por construir a nossa felicidade e a dos outros.

22.8.05

As Jornadas Mundiais da Juventude 

Não fui às jornadas este ano. Fui a duas, Paris 1997 e Roma 2000, e gostei muito, também do ponto de vista turístico e de convívio, mas também porque senti que não estava só e aprendi alguma coisa com as jornadas em si, sobretudo com as homilias. Sei bem, contudo, que não é sempre assim. Talvez não sejam muitos os que lá vão sem ligarem nada a fé. Mas sempre senti que havia muita gente para quem a festa era apenas uma grande algazarra. De vez em quando o papa João Paulo II estava a falar e alguns começavam a berrar, ou a aplaudir, ou a gritar um slogan qualquer; e lá ia toda a gente atrás. Pouco importava o que raio é que ele estaria a dizer. Sempre tentei perceber as homilias (embora o meu francês seja limitado, o meu italiano frustre, e a dicção do falecido papa complicasse muito as coisas). Mas era dos poucos. Muitos nem sabiam as línguas e poucos se ralavam em escutar a tradução simultânea emitida pela rádio na zona onde se celebrava a missa. E não me esquece um comentário que ouvi quando o papa levantou os braços durante um cântico: «Oh! Estás a ver? Ele levantou os bracinhos! Que querido!» Francamente, era como se o papa fosse um boneco articulado.

Li num jornal que Bento XVI terá conseguido imprimir um estilo diferente, em que importava mais o que ele dizia. Espero bem que sim. Hei-de perguntar às pessoas da minha paróquia que lá foram, quando voltarem. Li as homilias do papa (1 e 2) e achei-as cheias de coisas bem importantes. O mesmo sucede com os discursos que fez falando a muçulmanos, judeus e cristãos não-católicos. A estes últimos falou longamente da importância da unidade da Igreja. Não vou aqui pôr-me a comentar do que gostei mais; julgo que quem quiser saber fará bem em ler os originais. Apenas registo um único comentário negativo. Na homilia de Domingo o papa falou em termos favoráveis dos «novos movimentos e comunidades» surigos «nas últimas décadas», a propósito de se formarem «comunidades baseadas na fé». Não digo que não sejam importantes. Mas, e as paróquias? As paróquias são, ou deviam ser, o centro da vida cristã. Num livro que já referi, The Screwtape letters, o autor põe um demónio a escrever ao sobrinho :) que não há coisa tão má (para os demónios!) como as paróquias, porque se trata de comunidades com base geográfica, e onde portanto se têm de reunir pessoas diferentes pela cultura, pelo estrato social e pela educação. Esse convívio pode ser uma lição de cristianismo, ensinando tolerância, respeito, e a descoberta de valor e mérito nos outros. Se nos fechamos em comunidadezinhas de outros em tudo iguais a nós corremos o risco de não acolhermos Cristo nos que são diferentes de nós.

Roger Schulz 

A primeira vez que vi um retrato do Irmão Roger não sabia quem ele era. Eu dava catequese e a fotografia dele estava num catecismo para dolescentes, num sítio onde achei que a cara daquela pessoa não fazia sentido nenhum. Na altura até pensei que o homem tinha cara de parvo.

Mais tarde soube quem era, o que pensava e o que fez, e percebi que de parvo não tinha nada, senão no sentido etimológico do termo, de pequeno. E de humilde também, porque nunca tentou exaltar-se nem ganhar visibilidade e proeminência. Umas das coisas que mais acho notável na comunidade de Taizé foi nunca ter querido criar um «movimento» internacional paralelo às Igrejas cristãs. É coisa que está muito na moda. Mas em vez disso Taizé optou pelo caminho mais difícil e menos visível de tentar fazer soprar o Espírito nas Igrejas.

Li que nos anos 60 ele e outros irmãos da comunidade foram num carro velho a Roma falar com o mais velho ainda papa João XXIII. Este encorajou-os muito e disse-lhes que a Igreja é feita de círculos cada vez mais amplos. Ao que percebi, o papa achava que a comunidade podia alargar algum dos círculos para que a mensagem de Cristo chegasse mais amplamente a quem de outro modo a talvez não ouvisse. Rezo não só pelo irmão Roger como pelo trabalho que começou, para que possa continuar fiel e não se desvirtuar, alargando os círculos da Igreja una e inconsútil daquele que entregou a sua vida para que a tenhamos em abundância.

Assunção da B.A.V. Maria 

Já vem tarde este pensamento sobre esta Solenidade, mas não queria deixar de registar como é belo o pensamento da Epístola. Cristo é como que as primícias dos que dormem. Ele ressuscitou e vive agora uma vida nova, e é promessa de que todos nós também nos sentaremos à direita de Deus. Ele foi o primogénito de entre os mortos, como disse noutra carta o apóstolo Paulo. E depois dele tantos o seguiram e seguirão! É que houve uns cristãos em Corinto que chegaram a pensar que Cristo até podia ter ressuscitado, mas os outros não. Também em Tessalónica a ideia tinha parecido estranha. Mas neste dia, celebrar a assunção da mãe de Deus é confessar que Cristo ressuscitou, e não sozinho: todos os que pomos fé nele, como a sua mãe, e tantos outros, também seremos capazes de o ver como ele é.

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