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26.4.05

Democracia e Evangelismo 

The current neo-conservative support for democracy [within the U.S.] is very much like religious evangelism. The democracy promoters have their own bibles (the U.S. constitution), missionaries (U.S. diplomats), and Vatican (Washington). They don't care whether their program is culturally appropriate, politically applicable, or economically viable. They insist on the correctness of their approach even if the approach itself — imposed from above in Iraq and Afghanistan — is not democratic.

Küng e Ratzinger 

Duas historias que seguem em paralelo até aos eventos de Maio de 68.

21.4.05

5º domingo da Páscoa 

Estou há tanto tempo convosco, Filipe, e ainda não me conheces?

O evangelho deste domingo tem demasiadas frases sonoras e suculentas para comentar! Por exemplo, "Volto para o Pai para vos preparar um lugar", e o famoso "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim". Em todas, o motivo é o mesmo: é através de Jesus quenos conhecemos e chegamos ao Pai. Como diz a frase que eu citei inicialmente, todos nós (cristãos) já ouvimos estas coisas, todos conhecemos estas frases, mas o perigo reside exactamente aí: que conhecendo as frases, e sabendo-as de cor, achemos que já aprendemos o seu conteúdo, e fiquemos descansados. Será que, quando dizemos que acreditamos em Deus, esse Deus em que acreditamos, tem alguma coisa a ver com Jesus? Acreditamos no Deus Pai do carpinteiro, pregador e profeta, morto pelas estruturas religiosas e políticas do seu tempo como agitador, ou no deus teórico e frio que justifica todas as nossas liturgias, códigos, modos de oração, actos piedosos, às vezes até à mais pequena vírgula? É preciso uma grande obra de teologia teórica (desonesta, claro) para igualar os dois... Foi Jesus quem disse que "quem me vê, vê o Pai". É ele a imagem do Pai, e nada mais é uma imagem tão perfeita desse Pai.

Passo agora à outra mensagem da leitura, que diz que é através dele que chegamos ao Pai. É de facto através de Jesus que adquirimos a natureza de Filhos que nos estava prometida desde Adão; é através do amor que Jesus nos teve ao nos "preparar um lugar" que adquirimos esse subido lugar de filhos do Deus Pai de Jesus.

Volto à minha citação inicial, que dirijo especialmente aos "cristãos profissionais", aqueles que sabem as passagens de cor, e mais não sei o quê (nos quais eu me incluo); aqueles a quem já perguntaram muitas vezes "porque é que és cristão?", e que às vezes até se chateiam com a pergunta. Nós já estamos há muito com Cristo. Sabemos nós o que é essencial e fundador na nossa fé? Conhecemos esse Jesus que ressuscitou?

Vozes sobre o Papa 

Este post irá sendo actualizado.


Viram-te meus olhos 

Conhecia-te de ouvir falar
Mas agora viram-te meus olhos

(do livro de Job)

Estive durante algum tempo na dúvida se escreveria algo sobre este novo papa, ou se me remeteria ao silêncio, deixando vozes mais informadas e sábias do que a minha falar. Foi o meu choque que me levou a escrever.

Nos meus posts anteriores, e em certas citações, destaquei alguns problemas que me parecem prementes na Igreja Católica de hoje, e que têm, no meu ponto de vista, a ver com um ponto central: falta de participação e de respeito pela Igreja enquanto comunidade.

Não há assembleias de leigos, estabelecidas permanentemente, e com poder, ao menos, deliberativo, e o recente Papa João Paulo II encarregou-se de esvaziar os sínodos dos bispos de algum poder real, tendo-os torrnado apenas lugares de desabafo. Não há maneira de os leigos terem qualquer influência sobre os bispos que governam as suas dioceses, sobre os padres que governam as suas paróquias e até nalguns casos as pessoas que lideram os seus grupos de reflexão, nem sequer um direito de veto. O Papa, como se sabe, é eleito por um colégio de cardeais, nomeados por papas anteriores, como nas monarquias medievais, mantendo assim as linhas de pensamento da hierarquia imunes a influências exteriores.

Não há qualquer paridade homem-mulher dentro da Igreja Católica, nem se pensa em para lá caminhar, ao nível da hierarquia.

Há grupos e vozes que pugnam por mudança. Mas há grupos e vozes, que se vêem e se ouvem mais, que se satisfazem plenamente com uma religião de sentimentos fortes e superficiais, em que a imagem ou o carisma dos líderes suplanta (e até sustenta) aquilo que eles dizem, duma forma quase independente do conteúdo desse ensinamento. Aqui, os media colaboram alegremente, estes alimentados pelos acontecimentos grandiosos, estes últimos propalados pelos primeiros a um nível até agora nunca atingido. É, para ambos, uma coexistência feliz.

Falo disto porque já tinha visto e experimentado muitas destas coisas: a imposição de um padre ditatorial na minha paróquia, as peregrinações feitas de momentos de emoções fortes, mais do que de oração ou ensino. Da falta de participação dos leigos nos destinos globais da Igreja ainda só tinha ouvido falar, nunca tinha visto consequências concretas. Mas, tal como Job, tive a minha revelação do modo mais intenso: ao ver este sistema anquilosado erguer em Papa o muito conservador Cardeal Ratzinger, que aponta exactamente no sentido contrário àquele que a Igreja necessita neste momento. E foi também um choque ver a maior parte das vozes que aparecem na televisão ou na rádio a “branquearem” o seu passado de opressão e conservadorismo (aparentemente adquirido quando viu no que deram os movimentos estudantis de 68), chegando a dizer que morreu o Cardeal, e agora nasceu um Papa, como se a eleição tivesse o condão de mudar a estrutura interna de um homem.

Até agora, tinha ouvido falar deste sistema hermético de manutenção da estrutura tradicionalista da Igreja, e considerava-o muito pernicioso. Mas agora os meus olhos viram o sistema a trabalhar. E foi um choque que não esquecerei. Agora, sei o que este sistema pode gerar.

E só vejo uma solução para esta Igreja, aliás, a solução mais velha do mundo, que provavelmente Ratzinger consideraria marxista: a união. É essencial que se unam aqueles que lutam por uma Igreja nova, e unidos trabalhem, fraterna mas vigorosamente, por ela.

18.4.05

Morris West 

Dois artigos saídos no DN recentemente, da autoria de Morris L West:


15.4.05

Domingo do Bom Pastor 

Este Domingo é o Domingo do Bom Pastor. As palavras de Jesus ajudam-nos a reflectir sobre porque é que ele é o bom pastor. Isto é importante porque precisamos de saber hoje como reconhecer a sua voz no meio de tantas vozes que nos falam.

O bom pastor vem para que tenhamos vida, e a tenhamos em abundância. Assim, uma voz que nos reduza, e nos faça ter menos vida, não é a voz de Cristo. Uma voz que tolha a nossa vida e nos faça viver uma vida indigna desse nome é indigna de se reclamar de Cristo. Vozes que nos roubem e nos destruam não são do pastor verdadeiro.

O pastor conhece-nos a cada um de nós pelo seu nome. Nós não somos unidades numa massa, com a qual Cristo lida como um general lida com um exército ou um gestor com uma empresa. Jesus não se acha limitado pela incapacidade humana de tratar pessoalmente com cada um dos interessados quando eles são muito numerosos. Ele fala a cada um de nós e espera que cada um de nós pessoalmente ouça a sua voz. Hoje em dia há muitas pessoas que deixam de frequentar as igrejas e se afastam da comunidade que Jesus fundou. Isso pode ser pelo mesmo motivo pelo qual muitos judeus não creram em Jesus -- para eles, Jesus era motivo de escândalo --, mas também pode ser porque há igrejas nas quais a voz que se ouve não é a do Mestre... Devemos examinar cuidadosamente a questão e perguntar-nos (como dizia uma vez o papa João Paulo II): «onde é que nos afastámos do Evangelho?». E na Igreja de hoje afastamo-nos por vezes muito dele...

Este rebanho que o próprio Jesus pessoalmente congrega é um rebanho diverso. Lucas, nos Actos, repete várias vezes a pergunta que já tanto tinha gostado de repetir no seu Evangelho: «que devemos fazer?». A resposta de Pedro não busca uma uniformização dos que tinham acreditado em Jesus, do mesmo modo que nem Jesus tinha sempre dado os mesmos conselhos a todas as pessoas. Há um caminho único para o Pai que é Jesus, mas isso não quer dizer que sejamos como formigas. Pedro recomenda o arrependimento, o baptismo, a vida nova. Não exige coisas impossíveis nem prescreve as mesmas soluções para todos.

13.4.05

Bula 

A bula para a qual o Pedro Freitas pôs um link é, com toda a probabilidade, falsa. Circularam rumores de listas de preços do género desde a Idade Média (por exemplo, no pontificado de João XXII), mas a tal Taxa Camarae parece ter sido forjada muito mais tardiamente, na melhor das hipóteses no século 18 (se não mesmo mais tarde), ou por um anti-clerical ou por um protestante.

Tais rumores surgiram porque havia de facto simonia entre o alto clero e porque havia de facto listas oficiais de preços, embora apenas para actos administrativos e burocráticos e não para a administração de sacramentos (embora houvesse abusos nesta área e houvesse quem cobrasse pelos sacramentos, ou por outorgar dispensas que deviam ser grátis, e coisas do género).

Existe um estudo sobre o assunto em http://apologetica.org/taxa-camarae.htm. Não é um site de cujos conteúdos goste muito, porque os seus textos apologéticos são por vezes parciais e enviesados, e estão escritos duma maneira às vezes agressiva, mas neste caso defendem a única posição com pés e cabeça acerca de um documento que tudo indica ser falso.

É para mim motivo de grande alegria ver como tantos representantes de igrejas cristãs não-católicas e de outras religiões compareceram no funeral do papa João Paulo II. Se alguns terão ido por mera necessidade protocolar, também parece que há aqui sinal de uma maior união. E, ainda que as razões protocolares fossem as mais importantes, aqui há umas décadas poucas, se algumas, destas religiões se sentiriam compelidas a fazer-se representar, e a Igreja Católica até desdenharia se o tentassem...
A lista completa das representações está aqui.

12.4.05

Os evangélicos e as mudanças de clima 

Uma notícia do New York Times sobre um grupo de cristãos evangélicos que luta pelas mudanças de política em confronto com as mudanças climáticas. Deixo uma citação.
The Rev. Rich Cizik, vice president of governmental affairs for the National Association of Evangelicals and a significant voice in the debate, said, "I don't think God is going to ask us how he created the earth, but he will ask us what we did with what he created."

Uma curiosidade... (actualizado) 

Pus aqui um link para um documento (uma bula que venderia o perdão dos pecados, dos mais leves aos mais graves), que, conforme o Duarte comentou num post posterior, parece ser falso. Por causa disso, retirei o link.

8.4.05

3º domingo do tempo pascal 

Os discípulos de Emaús.

Esta é uma das minhas leituras preferidas. É aquela em que dois discípulos vão falando com Jesus, sem se aperceberem de quem ele é, só conseguindo distingui-lo ao partir do pão, altura em que ele desaparece.

Aqui se aplica a frase de Jesus, "pelos frutos se vê a árvore". Foi pela sua acção de se fazer um com os outros, de se deixar convidar, como pessoa a precisar de hospedagem que Jesus apareceu, um deus peregrino, viajante, passante. Foi através da sua palavra, que fazia arder o coração, e da acção de partilhar o pão que ele se revelou, isto é, pelas suas acções, e não dizendo abertamente o seu nome, não fazendo alarde da sua pessoa, deixando as suas acções falarem. E foi através do acolhimento que esses discípulos lhe deram, e da abertura dos seus corações que eles o conseguiram ver.

Agora, como então, Jesus não se vê. Agora os discípulos de Emaús, e nós, compreendemos a realidade da resurreição, e já não precisamos de ver. Porque sabemos. Porque experimentámos, num dado momento, a verdadeira partilha fraterna do pão, a palavra a arder no peito. E se não experimentámos isso, não conhecemos Jesus ressuscitado.

Vozes sobre o Papa 


Karol Wojtyla 

Descanse em paz.

4.4.05

Oração 

Deus todo-poderoso, nós te damos graças pelo teu servo, o Papa João Paulo II, que subtraíste aos sofrimentos deste mundo decaído, a este corpo mortal, e a toda a tentação. Confiamos que recebeste a sua alma, que ele entregou nas tuas mãos santas, na consolação segura e no descanso. Do mesmo modo nós te pedimos que concedas que no dia do julgamento a sua alma, e as almas de todos os teus eleitos que já partiram deste mundo, possam, connosco, e nós com eles, receber completamente as tuas promessas, e alcançar conjuntamente a perfeição, por intermédio da gloriosa ressurreição do teu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor.

(Oração pelos defuntos do Prayer Book anglicano de 1549.)


2º Domingo da Páscoa, ano A 

O Papa João Paulo 2 insistiu muito durante o seu pontificado na importância de uma cultura de vida. Defendeu os direitos humanos e fez repetidos apelos ao respeito por todas as pessoas humanas, em quaisquer circunstâncias. Pode parecer que os maiores atropelos ao respeito à vida se acham nos nosso países: é uma miopia natural, a de vermos melhor o que nos está perto. Mas sem menosprezar a gravidade da banalização do aborto e da eutanásia, que são os problemas sérios em que se pensa a maior parte das vezes quando a questão do respeito pela vida é suscitado, há problemas bem mais graves por todo o mundo. Em todo o mundo há milhões de pessoas que passam fome, sem terem que comer; há inúmeras pessoas que morrem por falta de cuidados médicos simples; há milhões de pessoas exploradas trabalhando sem pausas nem descansos em condições duríssimas e perigosas, quase em escravatura. E milhões destas pessoas assim afectadas são crianças. Além disso, há a ignorância, a falta de culura e conhecimentos que permitiria a muitos livrar-se destas condições; há a falta de esperança; há as condições sociais internacionais que fazem com que este quadro não se vá alterar tão cedo. «Pobres, sempre os tereis convosco», dizia Jesus -- Mateus 26, 11 e //.

Neste domingo lemos nos Actos dos Apóstolos que os cristãos partilhavam os seus bens, quer materiais quer espirituais. E nós, fazemos o mesmo? Se o fizermos, por muito pequeno que seja o nosso esforço e por pouca que seja a influência das nossas acções, alguma coisa mudaremos. Aliviaremos alguém imediatamente, e pelo nosso esforço poderemos talvez contribuir para uma sociedade mais justa. O Evangelho de Jesus chama-nos a isso. O Evangelho deste domingo afirma que o que está escrito nesse livro -- o Evangelho segundo João -- foi escrito para crermos que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Ora crer não é algo meramente intelectual, um mero saber inconsequente. Não: crer é algo que muda a vida de quem crê. E mudando a nossa vida mudaremos também a vida dos que nos rodeiam. Assim teremos a vida no nome de Jesus, e levá-la-emos aos que nos rodeiam.


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