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30.3.05

Novo apócrifo 

Evangelho segundo Judas — um novo apócrifo descoberto recentemente, com publicação eventual para o ano.


Petição 

Petição ao Papa para que admita padres casados. Será que ainda lhe chegará às mãos?


29.3.05

É verdade que assuntos como o aborto e a eutanásia não podem ser varridos para debaixo do tapete sob o argumento que há coisas mais importantes de que tratar. Mas não é má ideia po-los em perspectiva em relação a outras coisas que dizem igualmente respeito à vida humana, como o tratamento que um estado dá aos seus pobres e aos seus doentes. Acerca do recente assunto Terri Schiavo, veja-se este texto, que enquadra o assunto dentro da política americana actual.


27.3.05

Domingo de Páscoa 

Sempre preferi a Vigília Pascal à missa de domingo, embora este ano (como noutros) tenha ido às duas. O único "problema" da Vigília é a duração: é muito comprida, e pode tornar-se chata, especialmente para quem não tem pachorra para a mania portuguesa que quanto mais chatas e compridas são as coisas, mais solenes e adequadas elas são. É o bom velho provincianismo português, de que já falava Fernando Pessoa, que, em instituições tão imóveis como a Igreja Católica em Portugal, se torna ainda mais agudo.

No entanto, a Vigília não deixa de ser o lugar onde se celebra o maior mistério da vida humana: a ressurreição de Cristo, que, por amor, nos ressuscitou a nós também. Este é em geral um mistério mal percebido pelas pessoas, que se contentam com o papaguear frases como "Cristo morreu por nós" sem saber, nem se darem conta, do que é que essa morte efectivamente mudou na vida humana, vendo isso se calhar apenas como um elogio do sacrifício, da abnegação, ou até do respeito pela autoridade.

A verdade é que a morte de Cristo de nada valeria sem a ressurreição. É Paulo que diz que, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé. E tendo ressuscitado, que tem essa ressureição a ver com a nossa vida?

Este é um mistério que não se resolve com meia dúzia de palavras. É preciso compreender que, sem mais nada de transcendente, a nossa vida era praticamente absurda. E mais do que absurda: muitas vezes falhada, por causa das nossas limitações, invejas, egoísmos, preguiças. Cristo vem então, como homem, mostrar-nos o que é a vida humana, segundo o projecto que o Pai tinha para nós desde a origem. E, por ter conseguido ser fiel a esse projecto, Cristo voltou para junto do Pai — mas foi um homem que voltou! E por ter sido um homem a ressuscitar, como diz a liturgia, abriu-nos as portas do reino do Pai, deu-nos a condição de filhos de Deus, condição essa que nem em Adão tínhamos.

Assim, faz todo o sentido começar a Vigília com a leitura da Criação: depois de Cristo, a nossa condição mudou. Éramos pessoas humanas, com a dignidade que essa condição já tem, mas tornou-se agora possível sermos filhos de Deus, filhos no Filho, filhos como Jesus era Filho. E isso porque um de nós, um homem, conseguiu ser maior do que a dor, o pecado, a morte, por direito próprio, e levar assim, pelo amor que nos teve, a que todos os que queiram se possam considerar tão próximos de Deus Pai como ele próprio, Cristo, está próximo do Pai.


26.3.05

Recortes de imprensa 

Nas Filipinas, país muito católico segundo a opinião do Vaticano, lá se crucificaram publicamente uns artistas, demonstrando a sua fé pela exposição pública da sua dor artificial e inútil.

No Vaticano, o Papa enviou uma benção apostólica especial a Rainier do Mónaco, gravemente doente. Aos outros muitos gravemente doentes do mundo não mandou nada. Afinal, ele tem mais em comum com o Príncipe: ambos são líderes, doentes e envelhecidos, de pequenos países europeus, relíquias de um statu já desusado.

A mensagem pascal do prior da minha paróquia elogia a sangueira pornográfica do filme "A Paixão de Cristo" como "um filme admirável", e afirma que a ressurreição de Cristo é um facto tão histórico como o seu nascimento.

Em Nova Iorque, fez-se uma Via Sacra pública, em que se denunciou a política externa americana presente como uma vergonha para os católicos e para os americanos.


24.3.05

Motivos para o aborto (2) 

É fácil de perceber que é difícil não liberalizar o aborto numa sociedade onde a maioria das pessoas é favorável a essa medida. É exactamente a mesma razão pela qual é difícil pôr fim à pena de morte nos EUA, país onde a maioria das pessoas é favorável a essa punição. Mas isso não quer dizer que nos EUA a pena de morte seja uma coisa boa ou moralmente aceitável. Do mesmo modo, lá por a maioria das pessoas achar que o aborto não é um crime não é por isso que deixará de o ser.

Se assim fosse, nas sociedades onde a maioria da poupulação acha que os maridos têm todo o direito de bater nas mulheres (e há países assim, onde poucos são os homens que não pensam desse modo, e muitas mulheres reconhecem aos maridos tal direito), a violência doméstica seria boa e aceitável. Nas sociedades onde a pedofilia é não só aceite mas até socialmente encorajada (há uns casos paradigmáticos em certas ilhas do pacífico, e parece que em certas comunidades rurais isoladas europeias tais práticas se generalizaram igualmente) teria de ser considerada uma coisa boa. E nas sociedades onde o infanticídio é encarado como perfeitamente normal (e não é preciso recuar aos romanos do tempo da república ou à China do tempo do império para encontrar tais sociedades: antes da independência havia tribos da Guiné-Bissau, então Guiné portuguesa, que o praticavam, sobretudo em nascendo gémeos, obrigando o estado a um grande esforço para impedir tais mortes; e é de suspeitar que ainda hoje a prática se não tenha erradicado) deveria também dizer-se que matar um bebé não é errado.


23.3.05

Significado oculto???... 

Hoje, ao abrir a página do Nicodemos, verifiquei que o contador das visitas estava em 3,333. Sabendo que o 3 é o número da perfeição terrena (às vezes, é o 3.5, metade de 7), e que o 4 é o número do Cosmos, na significação bíblica, quererá isto dizer que o blogue atingiu um ponto de perfeição e harmonia natural dentro do possível nesta terra? Aceitam-se sugestões! :-)


Caros Leitores,

Não tenho ultimamente postado muito aqui, em virtude de uma pequena avalanche de trabalho que sucedeu. Isto levou-me até a descurar o comentário dominical do 5º domingo da quaresma. Venho por isso pedir desculpa, e prometer um comentário minimamente decente ao domingo de Páscoa (que logo me havia de calhar a mim).

Pedro.


22.3.05

Motivos para o aborto (1) 

Argumenta-se muitas vezes a favor da liberalização do aborto dizendo que quem é contra não tem o direito de impor o seu ponto de vista aos outros. Quem não quiser abortar é livre de o não fazer. E quem quiser é livre de o fazer. O argumento é muitas vezes enunciado assim e sem mais qualificações.

Claro que dito desta maneira é de uma estupidez óbvia. Ou será que alguém acredita que se possa dizer: «Vocês são contra a fuga fiscal. Tudo bem, sim senhor, paguem lá os vossos impostos. Mas não me obriguem a mim a pensar como vocês. Deixem-me fugir ao fisco à vontade.»? O mesmo argumento poderia ser usado por quem quer ganhar a vida furtando carteiras... Correndo o risco de ofender alguém (coisa que não quero), também poderiam os pedófilos dizer que quem não quer violar crianças está à vontade, porque ninguém os obriga; mas que também não os impeçam a eles, que têm direito à sua opção livre?

Na verdade há coisas que a sociedade não tem o direito de impor aos seus membros, e há coisas que tem o direito de impor, e coisas que tem o dever de impor.


Domingo de Ramos 

O Evangelho da procissão ou da entrada solene que hoje se lê conta-nos como Jesus entrou em Jerusalém montado numa jumenta. É certo que assim se cumpriam profecias; é certo que que isso aludia veladamente à sua realeza, que ele não negava mas não afirmava abertamente com fundados receios que fosse entendida no sentido habitual do termo, de realeza política que libertaria Israel da subjugação aos estrangeiros. Mas montar um animal pacífico e humilde era algo que se coadunava perfeitamente com Jesus, de quem a epístola nos diz que «existindo embora em forma divina, não considerou que ser igual a Deus fosse algo a que se agarrar».

Bem que nos podemos perguntar se montamos jumentos, ou se pelo contrário andamos preocupados a montar cavalos de guerra ou carros de batalha. O nosso Pai celeste chama-nos a seguirmos o exemplo de humildade e abnegação do seu Filho. Será que podemos dizer, como o profeta: «dia após dia ele me abre os ouvidos para que eu ouça, e não me revoltei nem virei as costas»?


4.3.05

4º Domingo Quaresma (ano A) 

A epístola de hoje exorta-nos a não tomarmos parte nas obras das trevas mas sim a sermos filhos da luz. Assim exprime ele que os discípulos de Jesus não hão-de viver como se o não fossem, levando vidas amorfas e indistinguíveis das dos outros. A distinção não consiste em ir à igreja de vez em quando ou fazer umas rezas; é antes algo de muito mais profundo: o tal viver como filho ou filha da luz.

Entre as obras de bondade, rectidão e verdade a que o apóstolo nos exorta encontra-se a de não fazer acepção de pessoas nem julgar segundo as aparências. Deus não faz isso. Escolheu a David, o mais pequeno de entre os seus irmãos, um mero pastor. E escolheu a Jesus, que os seus detractores desprezavam por não ter estudado, por ser Galileia, por ser filho de um carpinteiro, e por todas as razões que lhes parecessem boas para confirmar a decisão de não lhe prestarem ouvidos. Hoje no evangelho ouvimos que uns chefes religiosos judaicos se obstinavam no seu conforto cómodo de já saberem tudo: somos discípulos de Moisés. E assim não reconheceram em Jesus o Cristo.

Mais: convictos de que sabiam tudo, tentaram dominar sobre a fé dos outros, expulsando o cego curado por Jesus porque cria nele e assustando os pais dele. Jesus predisse que os seus discípulos seriam expulsos das sinagogas e que quem os perseguisse até pensaria estar a fazer um favor a Deus -- João 16, 2. Mas não era só nas sinagogas que havia o perigo desse autoritarismo religioso: a Bíblia fala-nos também, reprovadoramente, de uma igreja onde Diótrefes se entretinha a mandar em tudo e a excomungar quem não concordasse com ele -- 3 João 9.

Não é a atitudes intransigentes e dominadoras que Deus nos chama. Isso não quer dizer que para nós tudo seja indiferente e aceitemos tudo como igual. Voltamos ao ponto por onde comecei: o apóstolo exorta-nos a sermos filhos da luz e até a denunciarmos as obras das trevas feitas em segredo por certas pessoas. Mas, uma vez mais, os discípulos de Cristo, à imagem do seu mestre, não vieram julgar o mundo, mas levá-lo à salvação -- João 12, 47; cf. Mateus 10, 24; cf. Lc 9, 52-56.


E na sequência do meu último comentário, aqui está uma notícia do Público sobre a opinião do Patricarca acerca do mesmo assunto.


3.3.05

Sobre o anúncio ontem publicado nos jornais pelo Padre Nuno Serras Pereira 

(Infelizmente, sendo um anúncio, não consta da página do Público, pelo que não posso fornecer nenhum link para ele. Eu tive de o ler na versão em papel. Sou da opinião de que os textos devem ser lidos na sua versão original para poderem ser jugaldos.)

0. Este anúncio incarna uma obsessão social pelo sexo, que não vem de agora nem das últimas décadas, mas se tem exacerbado ultimamente, e que é muito pouco saudável.

1. O anúncio é condenável porque resulta claramente das Escrituras que salvo em casos de manifesta, grave e escandalosa conduta anti-cristã (nos quais a Igreja pode, colectivamente, decidir afastar alguém da comunhão -- 1 Coríntios 5, 1-13) é a cada cristão individualmente que compete decidir se recebe ou não o sacramento da ceia do Senhor -- 1 Coríntios 11, 17-34. Cada um de nós é que será julgado individualmente no tribunal de Cristo e terá de prestar contas das suas acções -- Ezequiel 18, 1-32; 2 Coríntios 5, 10-11. Não compete ao clero tentar dominar sobre as consciências dos fiéis -- 2 Coríntios 1, 24.

2. O anúncio está pessimamente redigido, porque dá a entender que a Igreja condena a contracepção, o que é falso: limita-se a questionar a moralidade de alguns métodos de contracepção, considerando esta até recomendável -- leia-se a encíclia Humanae Vitae do Papa Paulo VI. A Igreja condena sim o aborto, que é coisa completamente diferente e de gravidade incomparável. No anúncio parece que ambas as coisas são a mesma, o que é errado.

3. O anúncio subentende ignorância do seu autor sobre os métodos de contracepção. Por exemplo, o dispositivo intra-uterino não tem efeitos abortivos; pensou-se dantes que sim, mas hoje sabe-se que actua impedindo a concepção, e, se tem efeitos abortivos em alguns casos, são raros e quantitativamente marginais, inferiores aos de vários medicamentos. Médicos católicos que se opõem ao aborto e outrora se recusavam por motivos de consciência a aplicar dispositivos intra-uterinos já o fazem face aos novos conhecimentos sobre o assunto.


1.3.05

Notícia 

Lay sermons permitted, Vatican tells Swiss bishops. Proposals by Swiss bishops to allow lay theologians to give sermons and Protestants to receive Communion have met with the approval of the Curia in Rome, Bishop Amédée Grab, president of the Swiss bishops' conference, said this week.

Tirado das notícias do jornal The Tablet. Vejam o resto da notícia aqui (têm que procurar em "Europe").


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